Kamado

Individual de Julio Bittencourt
[Galeria da Gávea]
5 de maio a 24 de junho de 2016



Kamado


Uma exposição é como um corpo nu, com cabeça, tronco, membros, pulmão, coração e vísceras. Está tudo ali exposto, um indivíduo, não só um rosto, mas uma identidade.

E foi lá no Japão, em uma ilha abandonada pelos trabalhadores de uma fábrica desativada de carvão da Mitsubishi, que Julio Bittencourt encontrou os ingredientes para criar um novo indivíduo corpóreo, esse materializado nas fotografias que compõe a série Kamado. As imagens remetem ao sentido da sua busca pelo microcosmo que, segundo o artista, é onde estão contidas as “coisinhas para se falar de coisas grandes”, assim como a existência e o afeto. Assim também como a palavra Daidokoro, que significa lugar onde a comida é preparada em uma casa japonesa.

Se percorrermos a trajetória de Bittencourt antes de chegar até aqui, nos deparamos com as séries Prestes Maia, Cidadão e Ramos. Nessas fotografias o sujeito está sempre presente, a figura humana é central, é o elo, é o impulso para a sua criação. Em Kamado, fruto de imersões intensas em fábricas e espaços desabitados, este desejo de incluir o homem na sua fotografia se esgota e se transforma na certeza de que não há mais interesse por grandes janelas, por grandes espaços, por alvos certeiros, como antes pediam seus retratos.

Foram dois anos de pesquisa e produção dos mecanismos extremamente complexos para se chegar a Gunkanjima Island, onde a visitação e permanência são proibidas  para os cidadãos comuns. A preparação foi digna de uma “odisséia de documentos”, uma viagem por leilões de botes infláveis até encontrar o inusitado. Ali estava um edifício onde todos os micro apartamentos e os espaços dedicados as cozinhas são iguais, com a mesma área, a mesma dimensão, o mesmo cano e a mesma bancada.

E aqui também mora um paradoxo, pois foi no encontro com pessoas, com outras pessoas, que Julio se deparou com a certeza de que sua busca está no resíduo do homem, no abandono, na fuga, na decadência do capital e na fragilidade e fugacidade do que é matéria. Como a corda pendurada, a boneca, o pote, objetos que indicam a narrativa de reminiscências daqueles que viveram ali. São memórias que não lhes pertencem mais, elas compõe um novo corpo, um outro indivíduo, Kamado.

Esta série mostra a liberdade de deslocamento com que Julio faz suas investidas, transitando em apêndices que não têm fronteiras, que lhe conferem seu processo criativo, o seu fazer fotográfico, a sua práxis de organizar, de padronizar com diferenças e de nadar na piscina todo dia as seis da manhã. Não como uma disciplina militar, essa que se limita a uma lista de atividades e ações, mas sim como a necessidade visceral de colocar a espinha ereta para manter a respiração profunda e em dia, como a luz tênue que incide em cada uma das fotografias.

Me parece que a intenção é não perder o elo mais frágil, a ligação mágica com a vida, o que acontece entre o fotógrafo e o que ele observa. Aquilo que não está no alvo, mas o que se passa no espaço metafísico entre ele e o objeto.

[Texto de Isabel Amado]

Kamado
Fogão tradicional japonês alimentado por carvão

Daidokoro
Expressão em japonês que significa “lugar onde se prepara comida”



clipping selecionado


convite Kamado_Julio Bittencourt_Galeria da Gávea.jpg

Convite da exposição

Uma Mulher Moderna

[Casa da Imagem]
7 de março a 20 de junho de 2015



Uma Mulher Moderna
Fotografias de Gertrudes Altschul


Folhas secas, flores de plástico e de papel, confeccionadas no pequeno atelier que Gertrudes mantinha com o marido – ofício trazido junto com a bagagem da Alemanha numa forma de sobrevivência, foram de fato referências inspiradoras, que ressignificadas através da fotografia, resultam em um trabalho de profundo rigor estético, que incluiu experiências como sobreposições de negativos, construção de pequenos cenários (table top) ou simplesmente tomas diretas que não por isso deixam de buscar a perda do referente.

As folhas solarizadas, as linhas, os contornos dos objetos, indicam uma carga de respeito – carregada de expressão – à forma, e ao que está subentendido nela; o que é real? O que é palpável? Sua obra oferece liberdade total à criação.

Assim como para a maioria dos fotógrafos participantes do movimento conhecido como a Escola Paulista, a fotografia não era a principal atividade de Gertrudes, mas foi através dela que a artista extrapolou os conceitos do ofício, aplicou sua experiência do artesanal e se utilizou de um dos instrumentos mais modernos da época, a câmera fotográfica, como recurso de compreensão e ferramenta de transformação do que se pensava ser um caminho para a arte.

Os urubus solarizados aqui se transformam em gaivotas, na intenção de poetizar a crueldade da sobrevivência; os galhos que despontam espremidos do lado direito da imagem mostram uma sensualidade que parece à flor da pele; a teia de aranha descortina a trama do inseto e se transforma em véu.

Rever conceitos se tornou um hábito na vida desta artista, que saiu do seu país de origem fugindo da guerra e ficou um ano sem ver o filho pequeno e que não por acaso guarda até hoje o acervo de Gertrudes.

Não era a única, não foi a primeira. Uma mulher num clube estritamente masculino, e aqui me refiro ao da fotografia como um todo, é no mínimo inusitado e abre caminho para pesquisas mais aprofundadas de quem eram essas mulheres.

[Texto de Isabel Amado]


Movimento Coletivo

Inauguração da Galeria da Rua e exposição de fotografias do Projeto Trecho 2.8
[Galeria da Rua]
30 de março a 15 de maio de 2011


Convergência

1ª Mostra da Coleção de Fotografias da Galeria da Gávea
Coletiva de Alexandre Sant’Anna, Ana Carolina Fernandes, Ana Stewart, Antonio Augusto Fontes, Antonio Guerreiro, Bina Fonyat, Bruno Veiga, Julio Bittencourt, Luiz Braga, Marcos Piffer, Marlene Bergamo, Murillo Meirelles, Paulo Jares, Renan Cepeda, Ricardo Azoury, Ricardo Fasanello, Rogério Reis e Walter Carvalho
[Galeria da Gávea]
19 de agosto a 16 de outubro de 2009


Convite da exposição

Convite da exposição


Galeria da Gávea inaugura espaço para fotografia 


Mostra reúne fotografias representativas de diferentes épocas com trabalhos de 18 fotógrafos

Estabelecida de maneira definitiva no cânone da arte brasileira, a fotografia ganha um espaço à altura do status que merecidamente lhe é atribuído. Uma nova galeria, galeria da Gávea, apresenta em sua  primeira mostra 60 fotografias de reconhecidos fotógrafos, um multifacetado e significativo elenco de expressão nacional e internacional.

Num espaço anexo ao estúdio da Gávea, a galeria da Gávea convida Isabel Amado para curadoria da exposição coletiva num lugar exclusivo para a arte fotográfica. A curadora reúne fotógrafos de diferentes gerações numa seleção representativa da produção brasileira das últimas décadas.

Com larga experiência em curadoria para galerias e museus, bem como na produção dos últimos leilões fotográficos de sucesso, Isabel Amado foi capaz de criar uma sintaxe do que foi produzido de melhor nas últimas décadas. Alguns nomes são a própria história da imagem, como o madrilenho Antonio Guerreiro, os cariocas Bina Fonyat (1945-1985), Ricardo Azoury e Rogério Reis; e os paraibanos Walter Carvalho e Antonio Augusto Fontes.

Outra geração está representada pela paulista Marlene Bergamo, pelo brasiliense Julio Bittencourt, pelo paraense Luiz Braga, pelo santista Marcos Piffer e pelos cariocas Alexandre Sant'Anna, Ana Stewart, Ana Carolina Fernandes, Bruno Veiga, Murillo Meirelles, Paulo Jares, Ricardo Fasanello entre outros de peso semelhante. A escolha da curadora foi baseada em suas experiências pessoais com o elenco, bem como num conceito que busca uma imagem mais clássica, uma fotografia gerada pelo olhar e sentimento do fotógrafo, o que fica explícito no conjunto da mostra.

Na construção do repertório, buscou-se um conjunto que fosse também representativo das diversas tendências da imagem ao longo dos últimos anos. Para a curadoria, a representação é da fotografia e não necessariamente do fotógrafo, o que sugere um caráter muito mais amplo, que ultrapassa o âmbito autoral na consagração de uma imagem genuinamente brasileira, contudo, de alcance internacional.

Alguns trabalhos já são bem conhecidos do público, mas ainda não foram  representados dessa maneira. As paisagens documentais de Piffer, os retratos antológicos de Guerreiro, o light painting de Cepeda e o carnaval de Rogério Reis, são extratos de uma vasta e importante produção imagética. Este é o pressuposto para todos trabalhos expostos, e não somente quem os produziu. Um conceito bem próximo de muitas galerias internacionais de sucesso.