Uma Mulher Moderna

[Casa da Imagem]
7 de março a 20 de junho de 2015



Uma Mulher Moderna
Fotografias de Gertrudes Altschul


Folhas secas, flores de plástico e de papel, confeccionadas no pequeno atelier que Gertrudes mantinha com o marido – ofício trazido junto com a bagagem da Alemanha numa forma de sobrevivência, foram de fato referências inspiradoras, que ressignificadas através da fotografia, resultam em um trabalho de profundo rigor estético, que incluiu experiências como sobreposições de negativos, construção de pequenos cenários (table top) ou simplesmente tomas diretas que não por isso deixam de buscar a perda do referente.

As folhas solarizadas, as linhas, os contornos dos objetos, indicam uma carga de respeito – carregada de expressão – à forma, e ao que está subentendido nela; o que é real? O que é palpável? Sua obra oferece liberdade total à criação.

Assim como para a maioria dos fotógrafos participantes do movimento conhecido como a Escola Paulista, a fotografia não era a principal atividade de Gertrudes, mas foi através dela que a artista extrapolou os conceitos do ofício, aplicou sua experiência do artesanal e se utilizou de um dos instrumentos mais modernos da época, a câmera fotográfica, como recurso de compreensão e ferramenta de transformação do que se pensava ser um caminho para a arte.

Os urubus solarizados aqui se transformam em gaivotas, na intenção de poetizar a crueldade da sobrevivência; os galhos que despontam espremidos do lado direito da imagem mostram uma sensualidade que parece à flor da pele; a teia de aranha descortina a trama do inseto e se transforma em véu.

Rever conceitos se tornou um hábito na vida desta artista, que saiu do seu país de origem fugindo da guerra e ficou um ano sem ver o filho pequeno e que não por acaso guarda até hoje o acervo de Gertrudes.

Não era a única, não foi a primeira. Uma mulher num clube estritamente masculino, e aqui me refiro ao da fotografia como um todo, é no mínimo inusitado e abre caminho para pesquisas mais aprofundadas de quem eram essas mulheres.

[Texto de Isabel Amado]