ARTE!Brasileiros Magazine
[Agenda]
August 1st, 2019
Pela primeira vez, reúne-se em um casa modernista em São Paulo – a residência Castor Delgado Perez, de Rino Levi, sede da Luciana Brito Galeria – um conjunto expressivo de fotografias de Geraldo de Barros, Gertrudes Altschul, Thomaz Farkas, Ademar Manarini, Paulo Pires, Marcel Giró, Gaspar Gasparian, Eduardo Salvatore e Mario Fiori, representantes da vertente moderna da fotografia brasileira, linguagem que mudou radicalmente o conceito do que é arte no universo da fotografia e das artes visuais. Realizada em parceria com Isabel Amado, a exposição Fotografia Moderna 1940-1960 tem abertura em 29 de junho e pode ser visitada até 25 de agosto. Dado o interesse que esse período da produção fotográfica nacional tem ganhado na última década, Fotografia Moderna 1940-1960 propõe-se, com suas mais de 90 obras, a reunir fotos inéditas e outras que ainda não circularam ostensivamente e que, portanto, não são tão conhecidas do público. Com destaque para Geraldo de Barros, precursor do Concretismo no Brasil e cofundador do Grupo Ruptura, e Gertrudes Altschul, uma das poucas mulheres a ter a relevância de sua produção reconhecida neste período, a mostra espera contribuir, assim, para a ampliação do repertório visual que vem sendo construído em torno desses artistas. A fotografia moderna no Brasil aliou o desejo de inventividade e interpretação subjetiva do mundo no contexto do pós-guerra às especificidades dos movimentos de industrialização e urbanização brasileiros. Impulsionado pela fundação do Foto Cine Clube Bandeirantes, em 1939, o cenário da fotografia nacional observou uma efervescência única a partir da década de 1940, quando seus representantes se afastaram do pictorialismo academicista e abriram uma discussão sobre a essência do fazer fotográfico e sua autonomia enquanto forma artística em si e por si. São justamente os caminhos percorridos na busca por essa nova estética capaz de conferir à fotografia o estatuto de arte que podem ser vistos em Fotografia Moderna 1940-1960. Por um lado, essa investigação se deu no abandono de temas clássicos e pelo interesse pela abstração, pelo contrate entre luz e sombra, por cenários cosmopolitas e pela quebra de regras de perspectiva e composição. Em âmbito complementar, esses fotógrafos inauguraram uma visualidade marcada pela investigação dos recursos técnicos inerentes à própria mídia por meio de experiências laboratoriais e intervenções diretas no processo fotográfico como a múltipla exposição ou recortes de uma mesma chapa, a realização de fotogramas (quando os objetos eram colocados diretamente embaixo do ampliador, gerando fotografias sem a mediação de uma máquina fotográfica), superposições e desenhos executados diretamente no negativo. A fim de apresentar a autonomia do corpo de trabalho dos fotógrafos participantes – cujas obras integram o acervo de importantes instituições, como MoMA e Tate Modern – sem deixar de lado seus possíveis diálogos e pontos de contato, a expografia de Fotografia Moderna 1940-1960 divide-se em dois momentos. Enquanto a Sala Rino Levi da Luciana Brito Galeria é ocupada por ampliações vintage distribuídas de maneira tradicional, agrupadas por autor, no Anexo encontram-se as edições contemporâneas, reunidas por afinidades de assuntos, linguagens e temas. Assim, por exemplo, algumas das Fotoformas mais ilustres de Geraldo de Barros podem ser vistas ao lado de suas ampliações de desenhos sobre negativo com ponta-seca e nanquim, ou, ainda, as fachadas que beiram a abstração de Thomaz Farkas são acompanhadas não apenas por seu trabalho de interesse documental como também por experimentações surrealistas. De forma semelhante, fotogramas, estudos de composição e até naturezas-mortas vintage, além de ampliações contemporâneas de seus estudos arquitetônicos, representam a ampla gama do corpo de trabalho de Gertrudes Altschul na mostra.